Pix de R$ 480 mil a laranja e R$ 10 milhões em espécie: PF detalha ciclo da propina em fraudes de licitação

  • 14/11/2025
Dinheiro apreendido durante cumprimento de mandado em São Paulo Polícia Federal/Divulgação A Polícia Federal apurou que a propina obtida pelo esquema de fraudes em licitações na educação, alvo da operação Coffee Break nesta quarta-feira (12), passava por um ciclo de lavagem de dinheiro que incluía a conversão de transferências bancárias em até R$ 10 milhões em espécie, PIX de R$ 485 mil para um "laranja" e pagamento de boletos. Segundo as investigações, André Gonçalves Mariano, proprietário Life Tecnologia Educacional, era parte ativa na ocultação dos valores. A empresa é investigada por gerar lucro ilícito por meio de licitações superfaturadas, enquanto ele coordenava o pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos e intermediadores políticos (entenda o esquema abaixo). Mariano foi preso preventivamente nesta quarta. Além dele, outros seis mandados de prisão e 50 de busca e apreensão foram cumpridos. Os envolvidos podem responder por crimes como corrupção, peculato, fraude em licitação, lavagem de dinheiro, contratação irregular e organização criminosa. A seguir, veja como funcionava algumas dessas estratégias que, de acordo com a PF, transformavam dinheiro público em propina. LEIA TAMBÉM: Apartamento de R$ 10 milhões, BMWs e R$ 115 mil em vinhos: investigado por fraudes em licitações na educação ostentava vida de luxo, diz PF Lobistas, doleiros e políticos: quem é quem no esquema de fraude em licitações de materiais escolares no interior de SP Transferências via TED viraram R$ 10,3 milhões em espécie Identificado pela PF como doleiro, Abdalla Ahmad Fares é apontado como o responsável por converter recursos da Life em dinheiro em espécie a pedido de André Mariano. Era com esses valores que os lobistas e outros integrantes do esquema eram pagos. Entenda, ponto a ponto, como funciona a operação entre os dois: Mariano usava a conta da Life para transferir valores a Abdalla. O dinheiro era proveniente de recursos públicos desviados por meio de licitações direcionadas, contratos fraudulentos e superfaturamentos. As transferências eram feitas via TED para Abifares e a Fares empreendimentos, empresas de Abdalla. Segundo as investigações, elas figuram como as maiores beneficiárias dos recursos da Life, tendo recebido, pelo menos, R$ 27 milhões de janeiro de 2021 a julho de 2024. Para dar uma aparência de legalidade às transferências, ele enviava a Mariano um modelo de contrato de prestação de serviço, embasando falsamente as remessas como se fossem pagamentos por algum trabalho realizado. Ainda de acordo com a apuração, Abdalla convertia o valor em dinheiro em espécie e cobrava 3% como taxa pelo serviço. Isso significa que para receber R$ 500 mil em cédulas, Mariano transferiu R$ 515 mil em uma das situações. Mariano ia pessoalmente retirar o dinheiro em endereços de Abdalla, incluindo um prédio comercial e a residência. As cédulas eram acondicionadas em sacos plásticos lacrados, o que, para a PF, demonstra a atuação profissional do suposto doleiro. Entre janeiro de 2022 e junho de 2023, Mariano teria retirado pessoalmente, pelo menos, R$ 10,3 milhões em espécie com Abdalla. Esse dinheiro virava o “café”, como era chamada a propina distribuída entre os servidores e lobistas envolvidos no esquema. PF prende vice-prefeito de Hortolândia em operação contra fraudes em licitações públicas PIX de R$ 485 mil para laranja e parcela de apartamento Outras transações são apontadas como “provas ainda mais contundentes de corrupção”. Uma delas, detectada após a análise de conversas de WhatsApp, indica que Mariano enviou R$ 485 mil via pix, no dia 24 de dezembro de 2024, para a conta de um “laranja” indicado José Aparecido Ribeiro Marin. Ex-secretário de educação de Sumaré (SP), ele seria o principal parceiro do dono da Life na cidade. O “laranja” em é um homem com perfil de baixa-renda. A apuração identificou que ele não tem bens registrados em seu nome, apresenta divergências nos endereços vinculados e não possui qualquer vínculo efetivo com o município de Sumaré. Além dele, outras pessoas físicas e jurídicas são citadas como recebedoras de valores, provavelmente, para ocultar a origem e destinação dos valores. Em outro indício de corrupção, Mariano, a pedido de Marin, usou a conta da Life para pagar, em outubro de 2024, uma parcela de R$ 549.287,78 de um apartamento de luxo em Campinas (SP). O imóvel fica em um empreendimento de alto padrão e é avaliado em R$ 2,6 milhões. ‘Batom na cueca’ e boletos que somaram R$ 783,9 mil Áudios trocados entre André Mariano e Eduardo Maculan, também apontado como “doleiro”, mostram a preocupação de que as transferências via PIX fossem detectadas. No diálogo, em dezembro de 2023, Maculan o orienta a fazer os pagamentos aos poucos, evitando valores altos. O receio é evidenciado pela preferência dos pagamentos em boleto. Veja a transcrição da troca de mensagens: MACULAN - 07/12/2023 - 09:53 - "Mano, deixa eu te falar aqui, é bem complicado isso, hein? Você fazer tudo, todo esse valor de uma porrada num único dia e pior em PIX, então, nem se fala. Isso aí é batom na cueca. Isso dá um rolo no caramba. Eu sugiro a você que faça isso aos poucos, tá? Porque a situação, os caras estão olhando para tudo quanto é lado, entendeu? Então, se você puder pagar um pouco na segunda, um pouco na terça, um pouco na quarta. Isso ajuda o fluxo e minimiza aí qualquer tipo de risco, tá?". MARIANO - 07/12/2023 - 09:54 - "Ah, entendi, brother, eu entendi. Vamos fazer assim, então, como você falou. Mas tenta me ajudar para sexta-feira tomar um café com você. Essa é... Esse final que me interessa. Que eu tomar sexta-feira esse café com você em São Paulo, tá? Mas eu faço segunda, terça e quarta. E não faço o PIX, faço o normal". Quatro dias depois, Maculan enviou um áudio a Mariano dizendo "irmão, desses boletos que eu te mandei, tem alguns que tem PIX. Você consegue pagar uns dois boletos que totalizem aí uns R$ 40 mil?". No dia seguinte, a Life pagou 34 boletos totalizando R$ 783.951,35. Patrimônio luxuoso André Gonçalves Mariano ostentava um patrimônio luxuoso, incluindo um apartamento de R$ 10 milhões na capital paulista, uma frota de BMWs e gastos de até R$ 115 mil em vinhos. Com R$ 300 mil no cartão de crédito, ele acumulava gastos como: um apartamento na planta no Jardim Guedala, em São Paulo (SP), por R$ 10,6 milhões; um apartamento em Piracicaba (SP), atual residência de Mariano, por R$ 4,2 milhões; viagens a Londres, Miami, Suíça e outros destinos internacionais; R$ 115 mil em garrafas de vinho, incluindo duas garrafas de vinho francês no valor de R$ 2,2 mil cada. Um levantamento feito pela polícia apontou que Mariano também tinha entre os bens uma BMW X4 e uma BMW X3 (usada pela ex-esposa dele), e chegou a encomendar uma Mercedes AMG GT 63s E Performance por R$ 1.635.000,00. André Gonçalves Mariano ostentava vida de luxo, comprando vinhos e carros caros, diz PF Reprodução O esquema De acordo com a investigação, a organização criminosa usava lobistas para intermediar contatos entre a Life Tecnologia Educacional, empresa usada no esquema, e o poder público. O dinheiro arrecadado era lavado por meio da ação de doleiros que geravam o montante em espécie para repassar propinas aos envolvidos nas etapas anteriores. Segundo a PF, a maioria dos créditos recebidos pela Life entre 2021 e 2024 vem de recursos públicos. Os valores recebidos de Sumaré, Hortolândia e Morungaba totalizam R$ 99.399.812,87. A investigação também aponta um valor de R$ 11.757.440,96, possivelmente referente à cidade de Limeira. Com isso, o total proveniente de entes públicos é de R$ 111.157.253,83. Em termos de faturamento por notas fiscais, as vendas da Life para esses municípios somaram pouco mais de R$ 86 milhões. 50 mandados de busca e seis de prisão Durante a operação da PF deflagrada na quinta-feira, foram executados 50 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão preventiva em São Paulo, no Distrito Federal e no Paraná. Todos foram expedidos pela 1ª Vara Federal de Campinas (SP). Ao todo, foram cumpridos 19 mandados de busca e três de prisão na região de Campinas (SP). Além da metrópole, as ações também ocorreram em Hortolândia, Sumaré, Limeira e Piracicaba, segundo apuração da EPTV, afiliada da TV Globo. Os envolvidos podem responder por crimes como corrupção, peculato, fraude em licitação, lavagem de dinheiro, contratação irregular e organização criminosa. O que dizem os investigados A prefeitura de Hortolândia disse que aguarda o acesso às informações da denúncia para avaliar quais medidas serão adotadas. A defesa do vice-prefeito de Hortolândia, Cafu Cesar, informou que assim que finalizar a análise do inquérito irá ingressar com as medidas para a reversão da prisão preventiva. Mario Botion, que era prefeito na época das irregularidades, informou que, durante sua gestão, a licitação junto à empresa Life Educacional foi regular e transparente e que está à disposição para esclarecimento. Já a atual administração da prefeitura disse que não renovou o contrato com a empresa, nem fez qualquer pagamento à Life neste ano. A empresa Life Educacional, principal alvo da investigação, apenas informou que não vai se pronunciar. A defesa de Abdalla Ahmad Fares disse que ainda não teve acesso aos autos e que a investigação vai provar a inocência do empresário. O g1 pediu posicionamento a todos os envolvidos e, até a publicação desta reportagem, não teve retorno dos demais. VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias sobre a região no g1 Campinas

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2025/11/14/pix-de-r-480-mil-a-laranja-e-r-10-milhoes-em-especie-pf-detalha-ciclo-da-propina-em-fraudes-de-licitacao.ghtml


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